quarta-feira, 25 de junho de 2008

Água de mar, cheiro de banho

Nas aberturas da alma relaxo
e permito-me visualizar o destino.
Em minhas bolas de cristal
antevejo minhas desilusões,
todas as desilusões pelas quais anseio por passar

Noutros instrumentos de magia reveladora,
confesso minhas esperanças num futuro,
confio na razão mística das minhas crenças
e sentado olho o movimento no horizonte.

Quando acordo do transe entorpecente,
as ervas fumegantes ao meu redor
abrem a passagem pra fora.


Antonyus Pyetro

03/01/08

Rodas d'areia

Toda poesia do vento sem rumo
sopra agonia no silencio do deserto;
Toda nostalgia sucateada
ganha da alegria manifestada.

Lindas flores secas despetala o tempo,
corro e admito necessidades pueris.
Não precipito meus versos,
invisto em cada um uma costela.

A multidão que me persegue
pisoteiam os meus frascos,
perfumes tirados de sangue.

Não sou nativo do deserto,
só lacrimejo minha areia.


Antonyus Pyetro

07/03/08

Guarda-chuvas Amarelos

Como é gostoso sentir as gotas de madrugada pingando no céu do amanhecer,
banhado nelas eu prometo pretextos por um pouco de amor.
Mas minhas demonstrações oclusas de amores verdadeiros
expõem uma felicidade inerentemente negociável.

Levado por uma fragrância temperada com suor de anjos
me precipito na tomada de um beijo,
mas, já arrependido, ganho a recompensa nos teus lábios
portadores do preceito transmissor da poesia.

Nessa calmaria, a nossa praia é o amor
e sinto uma suicida vontade de correr
de me entregar e viver todos os sussurros
que eu errei em desprezar

Estou de guarda-chuva com medo de molhar os pés,
provando medidas cheias da contínua dispersão.


Antonyus Pyetro

20/10/07

Versos de tinta fresca

A melhor das piores verdades
batendo na janela de tijolos envelhecidos
aquece os amargos beijos viciantes,
que permeiam um lascivo amor em odores

Tendo a áurea azulando na escuridão,
meus flagelos do dia-a-dia preferidos
são ironias num cítrico de acerola.
um contraste com o gosto insensato de pele.

No meu copo, amoras maceradas,
uma calda docinha de solidão particular
e lascas do meu cometa de bolso.

Nesse cheque seguem dois vinténs
aluguel, antecipadamente, acertado
pela inóspita morada dos meus versos


Antonyus Pyetro

05/02/08

terça-feira, 24 de junho de 2008

Presente antepassado

A amores torpes respondo prontamente:
reduzo o passo e esqueço seu passar.
Sua superfície esconde a profundidade
e os troféus guardados na gaveta.

Falo o que eu lembro da vida
e se na membrana rompida do tempo
não o vi presente de outra hora,
meu passado agora foi embora.

Separa os segundos pré-revolução
e o estrondo absurdo da batalha
a percepção do aqui e do outrora.

O verbo que eu tinha na garganta
recomeça neste tempo de “eu amo”,
nesse beijo esperado até agora.


Antonyus Pyetro

23/06/08

segunda-feira, 16 de junho de 2008

Ardiloso conselho

Sou direto demais para viver em sociedade,
me desabriga a primeira rajada de chuva.
Minha impressão de posse é tão volátil
quanto a confiança derramada na vida.

Não sinto saudades de algo específico,
tenho enjôo pela alegria sem propósito
e uma economia ardilosa por saber
que a auto-infidelidade condena o corpo.

No mais, tenho infinitas esperanças,
mas nenhuma trago nos bolsos.
Largo junto banais conselhos.

Suspirar não ajuda a abrir o peito,
nem calafrio contrai assim a alma.
Um impulso de levantar me leva ao chão.

Antonyus Pyetro

16/06/08

domingo, 15 de junho de 2008

Afagos no horizonte

Estive todos esses dias contendo
minha predileção pela matéria escassa
com a qual eu construo meus desertos.

Pressupondo verdades convenientes,
ponho meus olhos nas mãos
e sinto com os dedos um horizonte
ocultamente, conduzido ao naufrágio.

Nesse amando-não-querendo-amar
na presença de meu entusiasmo canalizado
e talvez propenso a devaneios inquestionavelmente saborosos

Percebo que escondendo meu desejo
afirmo respeito por aquilo que não sou.
Afagos no corpo e promessas na alma.

Antonyus Pyetro

10/05/07

sexta-feira, 13 de junho de 2008

Descrente aparência

Nesse meu verso esqueça a noite.
E com desprazer coloco as palavras,
e com insucesso colo nas folhas
uma tristeza boa que rende poesia .

Como erudito canto agora
o que agitava toda plebe,
aquém das rajadas de alvorada
pois o sol contradiz o que sinto.

mais da bruma pesada no meu ombro,
menos anorexia na palavra confessa
mais da sonolência vadia descansa.

No silêncio que a tudo me responde,
me parte cada onda sobre as pedras
sou fraco ante a força do meu calar.

Antonyus Pyetro

27/05/08

Esses versos de toda esquina

me deprime a primeira pessoa do meus verbos
mas a saudade que não tem fim ainda me espera
e sem escolha, escrevo como olho pela janela afora.
espero o bonde em casa sozinho toda a tarde.

me amolam as palavras que repito,
mas se sento ao mar e as mesmas me engolem.
sigo na correnteza comum a tantas balsas,
embora meu trajeto pareça tão particular.

ratifico as verdades quando elas me deprimem.
Ao anoitecer me esperam a rua calma e fina névoa
e desapareço no arbusto a encobrir as desventuras.

Antonyus Pyetro

11/06/08

Outubro em mim mesmo

amante de uma vez perdida
perco três amores.
na rosa assassina
invento promessas.
como meu assunto é pouco
escrevo sem vida,
da vida sem amor,
no vazio só meu.
se pensou em não falar desista
pois o que falo e escrevo agora
recicla o amor que jogo fora.

Antonyus Pyetro

11/06/08

Buracos no tempo

O quanto é inseguro pensar na vida?
sei que o tempo não me deixa parar
e poder por um instante ponderar,
pôr no lápis tudo que fiz.

Olho para o chão, mas aponto o horizonte.
Se o presente me rodeia cheio de detalhes
então devia me afogar no lago a minha volta:
a fonte das incertezas está à frente.

Nessa semana meu futuro vem amanhã.
Não vou transtornar o presente conturbado
com minha vontade de crescer depressa.

Pois felicidade é tudo que amacia o tempo.
Nos esquecemos que já é hora de levantar
e que a lua não mais está no nosso céu.

Antonyus Pyetro

13/06/08